Simone Fuzaro, educadora e fonoaudióloga com mais de 30 anos de experiência na área. Apaixonada pela educação e pela família!
1. Quais as consequências de uma família desajustada para o indivíduo e para a sociedade, por consequência?
A família é, por excelência, a célula fundamental da sociedade. Através da família cada um de nós chega ao mundo e nela somos guiados e conduzidos, recebemos afeto, amor, educação, valores, cultura, sentido de pertença… ou seja, nela nos tornamos verdadeiramente pessoas. Quando a família está desajustada e não cumpre sua missão de cuidar e educar os filhos, esses acabam crescendo de modo desestruturado, sem o respaldo afetivo e formativo necessário para a formação de um bom caráter e de uma personalidade ajustada. O resultado mais comum são pessoas desequilibradas emocionalmente, que têm dificuldades de convívio social harmônico e equilibrado. Pessoas que não conseguem alcançar a felicidade pois falta estrutura para isso, enfim, pessoas que não tem as condições básicas necessárias para uma vida social feliz e produtiva. Hoje em dia, pesquisas e estudos mostram que as crianças que não são cuidadas e educadas com amor no seio da família, na adolescência e juventude apresentam maior tendência à dependência química, à comportamentos depressivos. Entre essa população também se encontra um maior índice de criminalidade e de violência na vida adulta.
2. Para as pessoas que nos leem, quais dicas você daria para melhorar o convívio familiar?
Em primeiro lugar é preciso entender que a vida de família precisa ser cultivada e planejada. Costumamos nos planejar e dedicar para tudo: viagens, projetos de trabalho, formação profissional… no entanto, a família parece que irá acontecer naturalmente, sem um planejamento sério e, hoje em dia não é mais assim. Na maioria das famílias, tanto o pai quanto a mãe trabalham fora, o tempo dedicado aos filhos e ao convívio precisa ser bem planejado e aproveitado. Também é importante não delegar a formação dos filhos a terceiros. Lembrar que essa missão é fundamentalmente dos pais, ou seja, mesmo que existam outras pessoas que participem dos cuidados diários, a orientação e direção precisa ser dada pelos pais. Somente assim alguns valores familiares fundamentais serão garantidos. Promover momentos de convívio gostosos no cotidiano: contar histórias, fazer ao menos uma refeição juntos ao dia, não permitir celulares e telas nos horários das refeições (e o uso ser restrito ao mínimo pelas crianças), mostrar fotos de quando os pais se conheceram, de como eram quando crianças… enfim, promover que as crianças percebam suas origens e a importância da família nas suas vidas.
3. A cena da criança chegando na escola e chorando é um clássico. Alguns pais interpretam como birra e ficam chateados. Como lidar com esse momento?
Trata-se de um processo de adaptação que precisa ser muito compreendido e acompanhado. É natural que crianças tenham dificuldade em separar-se das figuras que lhe oferecem segurança, os pais, para aventurarem-se num ambiente novo, com pessoas diferentes. Quanto mais a criança estiver segura, com autonomia bem desenvolvida e com laços afetivos estruturados, mais rapidamente se adapta. Evidentemente cada caso é um caso e para podermos orientar bem os pais, seria necessário conhecer as circunstâncias da família e da criança. De qualquer modo, o que posso dizer de modo geral é:
– Preparem a criança com entusiasmo e otimismo para o ingresso na escola
– Confiem na instituição que escolheram – a insegurança dos pais influencia diretamente a adaptação dos filhos
– Não levem as crianças para a escola no colo (se já souberem andar) e não transmitam insegurança ou ansiedade com a chegada à escola pois isso as
deixará mais vulneráveis à separação.
– Saibam que choro e reclamações fazem parte do processo de adaptação e suportem com paciência e otimismo essas manifestações. Vão passar.
4. A maternidade e paternidade têm parecido um caos para muita gente. Qual a importância do planejamento para melhorar isso?
Toda. Como disse anteriormente, planejar o convívio familiar é necessário se queremos que seja bom. Ter um tempo para o casal conversar, namorar e determinar no que precisam colocar foco ou como devem agir. Ter um tempo de convívio reservado para estar com os filhos, priorizar atividades, ações, enfim, determinar o melhor para a família a cada etapa do ano e da vida. Pais que conversam e planejam de modo ativo, vão agir de modo mais eficiente e se sentirão realizados ao observar os resultados que virão.
5. As famílias reclamam bastante que não conseguem conversar. O filho que não sabe contar algo para a mãe, o pai que não sabe se comunicar com o filho etc. Como melhorar isso?
A comunicação é sempre um ponto frágil, que merece cuidado e atenção em todas as relações, especialmente nas familiares. Para uma boa comunicação é preciso:
– Conhecer bem a si mesmo e aos outros – quem se conhece se domina e isso é um passo importante para estabelecer uma boa relação e comunicação com os demais. Conhecer o outro também é necessário, pois assim, adaptamos a comunicação ao nosso interlocutor;
– Estar aberto a ouvir o outro até o fim (sem pressupor ou imaginar) bem como expor com calma suas ideias;
– Não supor que o outro entendeu o que se disse, mas certificar-se disso pedindo que diga o que entendeu (especialmente se forem as crianças);
– Expor e interessar-se pelos sentimentos e impressões do outro com intenção de conhecer melhor cada um e se dar a conhecer também;
– Especialmente com crianças pequenas: falar pouco e claro, comunicar com abraços, sorrisos, expressões acompanhadas de poucas palavras, evitar agir ou falar em momentos de irritação;
– Com adolescentes: entender que estão numa fase da vida onde estão aprendendo a relacionarem-se e, portanto, a chance de errarem é grande. Os pais devem ter paciência e compreender que os adultos da relação são eles. Ouvir, orientar, não aceitar desrespeitos, mas ensiná-los a se manifestarem de modo adequado.