O problema da felicidade humana

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Em seu livro A Felicidade Humana, Julián Marías defende a tese de que a felicidade é um impossível necessário.

Nada está dando pronto nessa vida humana. Nascemos e de repente nos deparamos com inúmeras circunstâncias para lidar: o meu corpo, os meus pais, os meus irmãos e amigos, a minha cultura, a minha saúde, o lugar em que nasci e mais uma infinitude de coisas que compõe aquilo que chamamos de eu. Lembremo-nos da máxima de J. Ortega y Gasset: eu sou eu e minhas circunstâncias.

A partir daí, toda a vida humana consiste em aprender a lidar com essas circunstâncias, em negociar e conversar com elas para que possamos realizar a nossa vida de alguma forma, alcançando as nossas metas, objetivos e sonhos.

Podemos pensar na felicidade como o resultado final de uma série de realizações: “após ter meus filhos, serei feliz!”, “assim que comprar o meu apartamento, serei feliz!” ou então “serei feliz quando for rico!”.

Reparem que a felicidade, nesse sentido, é sempre algo vindouro. É sempre algo que está por vir. Uma realização futura e, de fato, a felicidade tem esse aspecto futuriço (termo cunhado pelo mesmo autor).

Mas, o que acontece após a realização desses objetivos? Você teve os seus filhos, comprou o seu apartamento, ficou rico. E agora, José? A sua vida para depois que você realiza essas coisas? Você não deseja mais nada? Não tem mais nenhuma pretensão?

Bom, nesse momento os objetivos se atualizam. Agora você quer aproveitar os seus netos, agora você quer comprar um apartamento para os seus filhos, quer que eles tenham uma boa profissão e sejam boas pessoas, e trabalhará em prol disso.

Percebam que a vida sempre pede por mais vida. Sempre existe um quê mais a ser acrescentado após a realização de um sonho ou objetivo. Sendo assim, a felicidade é impossível porque nunca se esgotarão as possibilidades de realizações. Sempre existirá um algo a mais que pode – e deve – ser feito e acrescentado.

A vida é movimento. É um constante fazer-se, lembra-nos Ortega. Sempre acontece no gerúndio. Fazendo, buscando, querendo, realizando, construindo… Nesse sentido, a felicidade torna-se extremamente necessária para a vida humana porque ela consiste justamente numa sequência de realizações da própria vida.

Se os nossos objetivos nunca têm fim e a vida consiste numa constante busca pela realização desses mesmos objetivos, nos deparamos aí com o grande problema da felicidade humana.

Em algum momento nós morreremos. Alguns sonhos ficarão sem a conclusão e outros jamais terão saído do papel. Teremos sido felizes ou infelizes?

Julián Marías resolveu este problema. A felicidade humana depende de que essa vida perdure. Em outras palavras, a felicidade depende da Eternidade. É preciso uma dose de transcendência para resolver este problema “terreno” que é a felicidade humana.

Só é possível ser feliz num “lugar” onde as coisas jamais cessem ou onde a vida jamais termina. E este lugar é o Céu. Por isso Cristo nos diz que faz novas todas as coisas (Ap 21, 5). No Céu, tudo é novidade, tudo é movimento, tudo é vida. Ao contrário, o Inferno é onde tudo está parado; não há mais possibilidades e não há nada novo.

Portanto, a felicidade humana é um caminho que começa a ser construído aqui, neste mundo, mas que só terá sua plenitude no Céu.

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