Chega a ser irônico que, no século em que os cientistas e professores reconhecem a importância da multidisciplinaridade, os defensores da ideologia de gênero ignorem, de propósito (sic), todas as perspectivas biológicas, filosóficas e espirituais da vida humana, e se apeguem exclusivamente à perspectiva social.
É verdade que parte do que somos é construída socialmente. Nascemos em uma cultura, em um contexto social, econômico e político, em uma época específica da história que não escolhemos livremente. Fomos “jogados” nesse cenário. Portanto, muitas de nossas crenças e opiniões sobre diversos assuntos são influenciadas por esse contexto social. É uma das nossas circunstâncias. No entanto, insisto: é apenas uma delas.
Não devemos esquecer que a humanidade enquanto espécie não se limita apenas ao aspecto social. O ser humano pode ser compreendido a partir de várias perspectivas: arte, literatura, matemática, fisiologia, biologia, filosofia, medicina e até mesmo o campo jurídico. Mesmo ao unir todas as áreas da ciência, cujo propósito é justamente esclarecer como as coisas da natureza funcionam, não conseguimos explicar de forma satisfatória o que é o ser humano.
Portanto, reduzir a questão de gênero a um fator exclusivamente social é desonesto em relação à própria ciência, tão aclamada pelos “dotôres”, além de ser um erro básico. Basta olhar para dentro da própria calça para perceber que existe pelo menos mais um aspecto da realidade que divide a humanidade em dois grupos, e esse aspecto precisa ser analisado com honestidade e seriedade acadêmica (coisas das quais muitos brasileiros parecem abrir mão).
Bom, mas este texto não se trata de ideologia de gênero. O problema é, antes de tudo, filosófico. Por isso quero falar sobre o homem e a mulher a partir do ponto de vista da antropologia filosófica.
Em seu livro “Mapa do Mundo Pessoal”, Julián Marías afirma que a vida humana se manifesta em duas formas distintas: a forma do homem e a forma da mulher. Embora sejam iguais enquanto pessoas, são diferentes em sua realidade ou personalidade.
A forma e a realidade do homem são caracterizadas pela gravidade. O homem é aquele que precisa se tornar forte, seja física, econômica ou intelectualmente. É a vida, e não a sociedade ou a biologia, que exige dele a força, a segurança, a dinamicidade e a objetividade; a presença imponente e séria de um homem grave. A mulher, por outro lado, representa a graça. Ela é um ser mais completo que o homem; dotada da forma mais bela. Espera-se dela leveza, beleza, graciosidade e acolhimento diante da vida. Ela é subjetiva e sua ação no mundo é poderosa, mas sutil. Não é barulhenta como a do homem.
A mulher, desde muito cedo, precisa estar atenta às inúmeras mudanças que o seu corpo sofre. São alterações não apenas físicas, mas também no seu âmbito mais íntimo: nas suas emoções, na sua vida interior e sentimental. Tudo isso representa um turbilhão intenso e, por vezes, complexo até mesmo para ela. É por isso que ela consegue arquitetar a vida, pensando em tudo e em todos ao mesmo tempo; promovendo conexões de forma eficaz. O homem é o oposto. Seu corpo não passa por tantas alterações, e seu mundo interior é mais simples e fácil de ser compreendido. Por essa razão, a objetividade, a definição, a iniciativa, a liderança e a clareza são características tipicamente masculinas. Enquanto a mulher é o silêncio da fé, o homem é o barulho das obras.
Se é a mulher é aquela que arquiteta, o homem é aquele que constrói. Afinal, não há arquitetura se não há necessidade de construir algo e não há construção sem uma arquitetura prévia. Dessa forma, homem e mulher são opostos complementares e estão intimamente vinculados. São duas peças que compõem uma mesma engrenagem para funcionar bem.
Deus não destinou o homem e a mulher a se tornarem uma só carne sem motivo, pois Ele sabe que a vida humana, a dois, é mais perfeita e mais rica.