Aline Rocha Taddei Brodbeck , católica, casada e mãe de quatro filhos. Também é advogada e professora.
1. Nos dias atuais, uma boa parte das mulheres reclamam acerca de estresse, nervoso e impaciência. Existe algum caminho para melhorar esse quadro?
Sim, estabelecer um rotina plausível com seu estilo de vida e buscar cumpri-la. Essa rotina deve buscar contemplar três pilares: vida de oração, vida em família, organização do lar.
2. Muitas mães reclamam de cansaço e exaustão com os filhos. Qual conselho você daria para que vivam com mais tranquilidade esse momento?
Antes de mais nada toda mulher tem que ter a consciência que ter filhos não é meramente um prazer, ainda que se tenham prazeres na maternidade, é um trabalho, e como todo trabalho que muito exige, é cansativo. Então essa mãe exausta vai ter que ter um momento para descansar; para isso além da rotina bem estabelecida ajudar, levar a vida de maneira mais leve, olhar as situações da vida com olhar cômico ajuda muito. Também não ser escravo da rotina pode ser um aliado, por exemplo; um piquenique no jardim no meio da tarde, um filme com pipoca, etc. A louça, as roupas, a casa podem esperar 15 min para essa mulher se recuperar.
3. Qual o papel da mulher em uma casa?
A mulher é o sol da casa, ela ilumina e coordena tudo.
4. Algumas mulheres acham que modéstia é somente vestir saia. O que é a modéstia e como ela pode ser vivida?
Toda mulher é digna. Procede essa dignidade da natureza humana. É a mulher ser humano? Então é digna. É criada por Deus. É Sua imagem e semelhança. Possui liberdade, intelecto e vontade. Tem uma alma livre, e um corpo que com ela constitui seu ser. E é digna, também, pela condição especial de sua feminilidade.
Se temos tal dignidade de sermos imagem e semelhança de Deus, temos que nos comportar de acordo com essa condição. E isso vale para todas. Crentes ou atéias. Cristãs ou budistas. Todas são dignas, todas são criadas por Deus. Todas precisam expressar em qualquer aspecto de sua vida essa dignidade. Até no vestuário.
E se todas devem fazer isso, muito mais as cristãs. “Reconhece, ó cristão” – diz São Leão Magno – “a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro.”
A roupa modesta reflete o Cristo com o qual fomos revestidos no Batismo. De fato, com o pecado de nossos primeiros pais, ficamos nus, mas Jesus nos deu novas “vestes” espirituais: a graça. E essa graça, que nos é dada nos sacramentos, primeiramente no Batismo, deve se refletir em tudo em nossa vida. Ora, queremos símbolo mais eloquente da “veste” da graça do que a veste física? A roupa que protege o corpo sinalizando a graça que protege a alma? Aliás, é interessante observar que o próprio rito do Batismo prevê a entrega de uma veste branca, como símbolo da pureza.
A pureza está na alma, não nas roupas. Mas não somos almas. Somos almas e corpos, uma unidade entre material e espiritual. E a pureza da alma deve ser manifestada na pureza do corpo, que, após o pecado original, é adornado com roupas para proteger nossa inocência e nos defender da nossa própria malícia – e da dos outros. Vestir-se de modo imodesto incita-nos a pecar pelo conluio com as tendências mundanas, e incita os demais a pecar pela excitação dos sentidos que pode levar facilmente à luxúria. A roupa modesta ajuda a preservar ou desenvolver a inocência conquistada pela graça – e por isso falei da veste do Batismo com um poderoso símbolo dessa realidade.
A modéstia tem a ver com a temperança, com o pudor, com a vestimenta, mas igualmente varia em suas expressões conforme as situações e ambientes. A modéstia é absoluta. Sua exteriorização varia de acordo com tempo, lugar, cultura, pessoa etc. Aliás, uma virtude derivada da temperança que não levasse essas distinções em considerações seria contrária exatamente à temperança, ou seja, uma contradição nos seus próprios termos.
A modéstia, em sentido amplo, segundo os autores mais clássicos em Teologia Moral, seguindo Santo Tomás, se divide em quatro tipos. Há dois conceitos para a modéstia em relação aos atos internos: como sinônimo de humildade, que é o sentido mais comum em nosso idioma; a estudiosidade, que é o estímulo à busca da verdade, freando o desejo de saber o que excede à nossa capacidade pessoal. Já em relação aos atos externos, a modéstia pode significar: o recato nos costumes e no comportamento; ou a modéstia em sentido estrito, ou seja, o adorno, o vestuário. Modéstia nas vestes está relacionada com a modéstia interior e com a modéstia no comportamento. Além disso, são imodestos tanto os excessos quanto os defeitos. É imodesto ser excessivamente “ligada” na moda e andar com roupas que ferem o pudor, como é igualmente imodesto pouca atenção dar à moda e aos adornos e pregar um recato cafona, desligado do tempo, do ambiente, do lugar e do tipo de corpo e especial circunstância pessoal da mulher. A chave para entendermos o que Deus quer de nós nesse campo é o bom senso, não listas fechadas do que pode e do que não pode ser usado. Importa defender o pudor pela modéstia.
Ensina a Igreja: “A pureza exige o pudor, que, preservando a intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela liberta do erotismo difuso e afasta de tudo aquilo que favorece a curiosidade mórbida. Requer uma purificação do ambiente social, mediante uma luta constante contra a permissividade dos costumes, que assenta numa concepção errônea da liberdade humana.”
Também São João Paulo II desenvolve o tema do pudor:
“O pudor é aquela tendência característica da pessoa humana para ocultar os valores sexuais na medida em que poderiam obscurecer o valor da pessoa. Tendência que é uma autodefesa da pessoa, que não quer ser objeto de uso nem no ato, nem mesmo na intenção, mas quer ser objeto de amor. Porque pode tornar-se um objeto de uso precisamente pelos seus valores sexuais, daí surge a tendência de ocultá-los, mas sem impedi-los de constituir, juntamente com o valor da pessoa, como um ponto de atração para o amor.”
Mas, embora a moral seja absoluta e atemporal, a cultura é mutável. A modéstia não muda, mas as suas expressões variam conforme a época, o lugar, as circunstâncias sociais, o tipo de corpo etc.
Santo Tomás é claro ao dizer que, embora a moral seja atemporal e absoluta, a condição dos vestidos exteriores será ou não modesta segundo a cultura própria, dado que “o vestuário exterior deve corresponder à condição da pessoa, de conformidade com o uso comum.” Também São Francisco de Sales: “[N]o tocante à matéria e à forma dos vestidos, a decência só se pode determinar com relação às circunstâncias do tempo, da época, dos estados ou vocações, da sociedade em que se vive e das ocasiões.”
Na visão da Igreja, a moral deve ser pensada por princípios, não por regras de pode e não pode, pois isso é próprio do puritanismo, de matriz gnóstica. Assim que, a cada circunstância, os princípios devem ser invocados, não um recurso a uma lista. E, com base nesses princípios, em coisas contingentes, pode-se ter conclusão distinta.
Não há uma regra “isso é modesto”, “aquilo é imodesto”. Evidentemente, que há situações que saltam aos olhos quanto ao erro, por afastarem a virtude do pudor. A maioria dos “tomara-que-caia”, a “minissaia”, e certos maiôs, por exemplo, são absolutamente incompatíveis com a modéstia cristã. Outras roupas são imodestas dependendo da situação.
Não deixemos, outrossim, de valorar o componente cultural e de aceitação social. Não deve ser determinante – uma sociedade em que seja “normal” andar pelado, nem por isso deixará de ferir o pudor. Porém, são fatores a considerar, sim.
5. Para uma família, qual a importância de ter boas amizades?
Sempre é bom um ombro amigo com que se possa contar. Alguém com quem se divida os mesmos dilemas e preocupações. Para tanto é necessário alguém que comungue das mesmas ideias. A Bíblia diz que quem encontrou um amigo achou um tesouro. O relacionamento com pessoas que amam as mesmas coisas e odeiem as mesmas coisas nos forma, nos ajuda a crescer. E para nossos filhos é uma bênção: eles percebem que outras crianças, filhas de nossos amigos, são educadas da mesma forma que eles, nos mesmos valores e combatendo os mesmos vícios. Os ajuda a não estar sós. É fundamental até mesmo para quem não se revoltem na adolescência e percam a fé.